Se você é fã de peixe, a pescada, provavelmente está entre os seus favoritos. Seja em um restaurante de frutos do mar ou naquele prato a quilo, ver pescada no cardápio sempre traz uma sensação de satisfação. Mas, com tantas variedades como Pescada-Amarela, Pescada-Cambucu, Pescada-Gó e Pescada-Branca, fica a pergunta: quem é quem nessa história? E será que você sabe mesmo qual é a sua pescada favorita?
Pensando nisso, a FishCode vai lançar a série Desvendando as Pescadas, para finalmente esclarecer todas as dúvidas sobre as diferentes pescadas. Sabemos que a tarefa é desafiadora, mas contamos com a ajuda de dois especialistas (experts FishCode) para desvendar esses mistérios.
A oceanógrafa Cintia Miyaji, referência em sustentabilidade de pescados no Brasil, será responsável por toda a parte técnica. Cintia tem o talento de transformar conteúdos complexos (e às vezes meio chatos 😅) em informações acessíveis, agradáveis e práticas para nós, consumidores. Já quando o assunto é sabor, textura e receitas, temos o privilégio de contar com o chef Pedro Bichir, que, além de muito talento, é um verdadeiro apaixonado pelo mar e pelos enigmas das nomenclaturas dos peixes.
Assista aqui o video de lançamento da série:
Desvendando as Pescadas
Por: Cintia Miyaji
Além de denominar aquela pequena fechada de olhos quando se está com muito sono, o termo Pescada pode se referir a diversos peixes, especialmente da família Sciaenidae, a maioria do gênero Cynoscion. E atenção: em Portugal, o nome Pescada é aplicado aos peixes da família das merluzas!
A família Sciaenidae reúne os peixes conhecidos em inglês como drums e croackers, nomes que remetem à sua capacidade e diversidade em produzir sons, usados principalmente na comunicação entre os indivíduos em situações relacionadas à desova, alimentação e/ou comportamento agressivo. Os sons são produzidos pela contração de músculos que fazem vibrar a parede da bexiga natatória, um órgão relacionado ao controle da flutuabilidade dos peixes.
A maioria dos integrantes da família Sciaenidae vive junto a fundos de lama ou areia em águas rasas e são predadores vorazes de pequenos peixes e invertebrados, e por isso, apresentam dentes caninos bem desenvolvidos e afiados. Compõem uma importante fração das capturas de arrastos e emalhes-de-fundo e praticamente todos rendem ótimos preparos na cozinha. Sua representante mais famosa e consumida no Brasil não é uma Pescada, mas sua prima, a Corvina (Micropogonias furnieri).
O corpo de um cienídeo tem um formato típico de um peixe: alongado com as extremidades mais estreitas que o centro, e moderadamente comprimido, ou seja, achatado lateralmente. A nadadeira dorsal é bastante alongada e sua porção anterior, que tem espinhos, é separada da porção posterior mole por um sulco bem pronunciado. As nadadeiras pélvicas posicionam-se abaixo das nadadeiras peitorais, e a nadadeira anal tem um ou dois espinhos.
Como não apresentam muitas características distintivas externas que permitam um fácil reconhecimento e separação entre as espécies, esses peixes foram acumulando diversos nomes comuns regionais. Devido à sua importância econômica e consequente necessidade de coleta de dados adequada a cada espécie para embasar a gestão pesqueira dos respectivos estoques, muitas tentativas já foram feitas para se estabelecer uma nomenclatura “oficial” para as pescadas. Mas, aparentemente, até o momento falharam vergonhosamente... Os nomes populares regionais chegam às dezenas para uma única espécie e o nome Pescada pode ser aplicado comercialmente a qualquer das espécies do gênero Cynoscion, segundo a Portaria MAPA No570, de 23 de março de 2023, que estabelece a correlação entre os nomes comuns e científicos a ser adotada em produtos inspecionados destinados ao comércio nacional.
Mas, por que a correta identificação da espécie importa ao consumidor final?
- Porque sem saber quem é quem, dificilmente saberemos quando, onde e como ela foi pescada, e assim, não teremos dados suficientes para evitar que uma espécie que esteja sendo capturada em excesso possa ser protegida e assim ter seu estoque recuperado;
- Sem ela, a troca de espécies mais valorizadas por espécies mais comuns se torna uma fraude econômica, que além de enganar o cliente gera uma competição desleal entre os vendedores;
- Sem ela, podemos ser enganados a consumir uma espécie capturada de forma ilegal (na época do defeso, por exemplo);
- Sem saber a espécie, podemos consumir espécies trazidas de longe e assim, perder a chance de incentivar o consumo de espécies locais, valorizando os pescadores da sua região.
Nesta foto, tirada em um mercado de peixe bastante movimentado, observamos o uso sem critério dos nomes comuns.
Um consumidor bem-informado é um dos principais vetores de mudança no consumo consciente de pescado. Para garantirmos que os recursos sejam extraídos dos mares, rios e lagos de maneira sustentável, precisamos de uma demanda qualificada que exija dos produtores e revendedores transparência na cadeia.
Como a legislação brasileira ainda não exige a correta identificação específica do pescado através da rotulagem nos produtos congelados, nem há fiscalização suficiente na venda de pescado fresco inteiro ou porcionado, o conhecimento do consumidor sobre as espécies se torna essencial.
Quer se tornar um consumidor consciente que faz o melhor uso dos recursos pesqueiros e não é enganado na peixaria ou no restaurante, escolhendo sempre o melhor preparo para a Pescada certa? Então vem com a gente!