Entenda porque a proteína aquática, peixes e frutos do mar, oriunda de cultivos sustentáveis é uma ótima opção e quais os mitos que você não precisa se preocupar.
Antes de começar precisamos entender o que é a Aquicultura, piscicultura ou cultivo.O que é a Aquicultura?
É o cultivo de organismos aquáticos, seja em água doce ou salgada, envolvendo peixes, crustáceos (camarão principalmente), moluscos bivalves (ostra, mexilhão e vieira), microalgas, macroalgas e até mesmo jacaré, rã e tartaruga-de-água-doce (sim, existe o cultivo comercial de tartaruga-da-amazônia).
São criados de forma sustentável através de diversos sistemas de cultivo: tanques escavados no solo, tanques rede, grandes reservatórios ou açudes, tanques elevados revestidos com geomembrana e até mesmo em cordas, como no caso das ostras, mexilhões e vieiras (este último, “lanternas” fixadas em cordas).
Quais os principais peixes e frutos do mar vem da aquicultura?
Produzidos aqui no Brasil, temos: tilápia, tambaqui e camarão marinho. Estas são as 3 principais espécies, mas também temos cultivos comerciais de truta, pintado, pacu, matrinxã, piaus, carpas, lambari, pirarucu, camarão-de-água-doce, rã, jacaré e uma série de outros mais.
O cultivo da água salgada também vem crescendo e hoje temos vieiras, mexilhões, ostras e os avanços científicos e tecnológicos já temos no Brasil o cultivo da Garoupa e do Bijupirá! Dois peixes fantásticos e agora sustentáveis.
No mundo, as carpas (húngara, capim, cabeça grande, ...) lideram como sendo as cultivadas em maior quantidade (China e países de clima temperado produzem muita carpa). Do ponto de vista comercial, salmões (segunda espécie mais criada), camarões marinhos e tilápias (quarta espécie mais cultivada) são as mais importantes. O cultivo do pangasius, conhecido no Brasil como Peixe Panga também é bastante representativo. Mundo afora também se cria linguado, badejo, enguia, olhete entre outros.
Porque a aquicultura é extremamente estratégica para alimentação mundial?
Em novembro de 2022 a população mundial atingiu a marca de 8 bilhões de pessoas. Para 2050 estima-se uma população de 9,7 bilhões de pessoas. Ou seja, 1,7 bilhões de pessoas a mais para serem alimentadas. As áreas agricultáveis mundo afora já estão devidamente ocupadas. Algumas iniciativas buscam a produção de alimentos no deserto, porém com alto custo. No caso da proteína aquática, ainda não exploramos nem 1% dos recursos hídricos (água doce + água salgada) disponíveis. As proteínas terrestres já usufruem dos 30% de aumento da produtividade que o melhoramento genético e a nutrição adequada podem proporcionar. No caso dos organismos aquáticos, ainda temos muito para avançar em melhorias relacionadas a melhor performance com vistas ao aumento da produtividade. Em termos de eficiência energética, animais aquáticos são pecilotérmicos (animais de sangue frio), por isso não gastam energia para fazerem o controle da temperatura. Também, por viverem na água, gastam menos energia para se deslocarem. Tem ainda o fato de excretar os compostos nitrogenados na forma de amônia, uma via metabólica mais direta e eficiente que os animais terrestres, que excretam na forma de uréia (mamíferos) e ácido úrico (aves e répteis). Não é à toa que o salmão, mesmo sendo um peixe carnívoro (via de regra são mais exigentes em proteína e menos eficientes em conversão) já se consegue a incrível marca de conversão alimentar 1:1, ou seja, um quilo de alimento fornecido para um quilo de peso vivo convertido.
De acordo com relatório da OECD-FAO Agricultural Outlook 2016-2025, a proteína aquática, juntando Aquicultura + Pesca Comercial, já é a proteína animal mais consumida no mundo (sendo a carne de suíno a segunda). Ainda tem dúvidas que a proteína aquática é a nova fronteira para alimentar o mundo?
Quais as vantagens de comprar peixes de cultivo/cativeiro?
Cultivos sustentáveis, rastreabilidade, abate conforme regras de bem-estar animal, melhor qualidade da cadeia do frio durante transporte e armazenamento, segurança alimentar, constância na oferta e preços mais competitivos são algumas das vantagens.
3 Mitos sobre peixes de cultivo ou cativeiro que você deve esquecer!
Peixe cultivado em tanque de terra tem gosto de barro!
Tanto o peixe pescado em rios, quanto peixes criados em tanques redes ou tanques escavados podem eventualmente apresentar o sabor estranho (off flavor), popularmente conhecido como “gosto de barro”. Mas não é o contato dos peixes com o fundo do viveiro ou do rio que transfere este sabor a carne. O que na verdade pode proporcionar este indesejado sabor são dois compostos orgânicos produzidos por algas azuis: a Geosmina e o Metil-isobornel. Estas algas ocorrem naturalmente e além de serem uma fonte de oxigênio para a água também servem de alimento para os peixes. Porém, em determinadas épocas do ano, especialmente no início do verão, é natural acontecer o florescimento e proliferação exagerada destas algas que passa a ser um problema quando os peixes engerem muitas algas azuis. A boa notícia é que tanto a geosmina quanto o metil-isobornel são voláteis. Ou seja, em pouco tempo estas substâncias acabam se desprendendo da gordura do peixe quando estão vivos e não depois de abatidos! Deste modo, os peixes de cultivo, sejam eles criados em tanques de terra ou em tanques rede, passam pelo teste de “Off flavor” antes de serem abatidos. Se eventualmente for identificado o gosto de barro, estes peixes são transferidos para um tanque com água limpa e alta circulação antes do abate. Em torno de 1 a 2 dias nestes tanques são suficientes para eliminar os compostos indesejáveis. Hoje em dia é muito raro que os peixes criados em pisciculturas apresentem o gosto de barro. Para saber mais, acesse o link: ....
Peixe de cultivo é menos saboroso!
Impossível estabelecer qualquer correlação neste sentido. São muitas as variáveis que podem influenciar no sabor dos peixes, sendo as principais o abate e a conservação respeitando a cadeia frio. No caso dos organismos cultivados, a insensibilização seguida do abate ocorre em água bem fria e dali em diante permanecem na cadeia do frio, garantindo melhor conservação das características de sabor e textura originais da carne. Avanços significativos aconteceram nos últimos anos em relação a técnicas de abates e conservação dos peixes da pesca comercial. O que é muito bom! Mas ainda tem aspectos relacionados a espécies, idade (quanto mais velhos, menos saborosos), se de água doce ou água salgada, tempo de armazenamento, entre outros. Via de regra, se estiverem bem conservados respeitando a cadeia do frio, ambos são excelentes!
Peixes de cultivo não tem as mesmas propriedades nutricionais que peixes da pesca!
Fato! Diferenças na composição nutricional existem por diversos fatores e não está relacionada somente ao fato de ser cultivado ou da pesca comercial. A título de ilustração, atualmente já é possível produzir, por exemplo, peixes mais ricos em ômega 3. É fato também que as chances de ter acúmulo de metais pesados nos peixes de cultivo é praticamente inexistente! Outro fato é que mesmo existindo eventuais diferenças na composição nutricional, o pescado ainda continua sendo um alimento rico e nutritivo.
Camarão marinho é cultivado em áreas de mangue!
Você já esteve ou você já viu um mangue de perto? Se sim, consegue imaginar um trator do tipo retroescavadeira escavando um viveiro de 2-3 hectares em cima de um mangue? Pois então, é tecnicamente impossível construir um viveiro de camarão em cima de um mangue. Mesmo que houvesse uma tecnologia para construir estes viveiros, trata-se de um solo que há milhares de anos realiza a decomposição de folhas e, portanto, extremamente ácido e com alta quantidade de matéria orgânica, o que inviabilizaria o cultivo de camarões em uma área como esta. Por outro lado, é fato que algumas fazendas estão sim junto a áreas de manguezais e que eventualmente ocorra a supressão de parte da vegetação do mangue para construção de um talude ou estrada. Agora, afirmar que a maior parte da produção de camarão marinho no Brasil se dá em áreas que antes eram manguezais é, no mínimo, caso de ambientalismo irresponsável e enviesado. Em tempo, há comprovações científicas que registram o aumento da área de manguezais no Brasil.
Conclusão
A aquicultura é uma das grandes apostas mundiais para conseguir achar o desafiador ponto de equilíbrio entre o consumo de proteína animal e a sustentabilidade. Países desenvolvidos apostam alto em tecnologia para evoluir as fazendas marinhas e piscultura, aumentando o número de espécies adaptadas ao cultivo. Bijupirá, olhete, garoupa, tambaqui, pirarucu, vieiras, ostras, lagostas e até o polvo são espécies comercialmente importantes e quem estão caminhando para produção sustentável.
Aqui no FishCode você consegue consultar cada uma das espécies saber tudo sobre elas, desde o tipo de preparo recomendado até o risco de sustentabilidade.