Um assunto difícil, delicado, porém necessário.
Fonte: PAN Tubarões -
Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Tubarões e Raias Marinhos Ameaçados de Extinção
Que peixe é o cação?
Cação é um nome genérico dado aos tubarões no Brasil. O cação se tornou um "produto" que abrange inúmeras espécies de tubarões. A principal, comercializada e consumida no Brasil, é o tubarão-azul (Prionace glauca).
Antes de chegar no tema do consumo do cação é preciso entender quem são os tubarões, o papel deles na natureza e porque não podemos compará-los com peixes ósseos.
Cações ou Tubarões e as Raias são peixes cartilaginosos também conhecidos como elasmobrânquios, (classe Chondrichthyes: chóndros = cartilagem e ichthýs = peixe), cujo esqueleto é composto por cartilagens mineralizadas e não ossos verdadeiros.
Qual a importância dos tubarões na natureza?
Os peixes cartilaginosos surgiram na Terra há cerca de 420 milhões de anos e sua linhagem evolutiva é muito antiga. Apesar das diversas extinções que aconteceram no planeta, esses peixes ainda existem até hoje. Têm um papel importante na pirâmide alimentar dos oceanos, pois se alimentam de uma grande variedade de peixes ósseos e outros organismos.
Tubarões ou cações estão em extinção?
A pesca excessiva de Tubarões e Raias ao longo de décadas tem causado uma dramática redução em suas populações, resultando em graves consequências ambientais. Isso se deve à fragilidade do ciclo de vida desses animais, que apresentam baixa produção de descendentes, crescimento lento e atingem a maturidade tardiamente. Como resultado, a capacidade de repovoamento é quase inexistente, pois a mortalidade é maior do que sua capacidade reprodutiva. Em outras palavras, mais elasmobrânquios estão morrendo do que nascendo.
Comer Cação é Proibido?
O livro PAN Tubarões (Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Tubarões e Raias Marinhos Ameaçados de Extinção) enfoca 12 espécies ameaçadas (IN MMA nº 05/2004), que estão distribuídas ao longo do litoral brasileiro até o limite mais externo de sua Zona Econômica Exclusiva (ZEE).
Isogomphodon oxyrhynchus tubarão-quati; Squatina occulta cação-anjo-liso; Rhinobatos horkelii viola; Cetorhinus maximus tubarão-peregrino; Mustelus schmitti cação-cola-fina; Squatina guggenheim cação-anjo-de-espinho; Galeorhinus galeus tubarão-bico-doce; Ginglymostoma cirratum tubarão-lixa; Negaprion brevirostris tubarão-limão; Pristis pectinata peixe-serra; Pristis pristis peixe-serra ; Rhincodon typus tubarão-baleia.
Segundo a Portaria 445 do Ibama, em 2023 adicionou mais 5 espécies: São elas: Carcharhinus acronotus – tubarão-de-focinho-negro, Carcharhinus brevipinna – tubarão-galha-preta, Carcharhinus falciformis – tubarão-lombo-preto, Carcharhinus leucas – tubarão-cabeça-chata e Isurus oxyrinchus – tubarão-anequim.
Essa proibição foi antecipada para o dia 22 de maio de 2023.
Animais com capacidades espetaculares
Os tubarões são animais com capacidades fantásticas, vejam:
Nós, seres humanos, percebemos estímulos químicos, luminosos e mecânicos por meio de cinco sentidos diferentes. Já esses peixes conseguem perceber estímulos químicos, luminosos, mecânicos e eletromagnéticos. Enquanto nós usamos cinco sentidos para detectar três tipos de estímulos, eles usam sete sentidos para captar quatro tipos de estímulos. E apesar do que muitas pessoas pensam, a visão desses peixes é muito boa e eles conseguem enxergar bem inclusive no escuro.
Afinal: Comer ou não comer Cação?
A carne do cação é branca, saborosa e com poucas espinhas, porém por serem predadores que do topo da cadeia alimentar podem apresentar elevados níveis de metais pesados.
Um outro ponto é a falta de controle na pesca. Apesar de não ser proibido, a pesca de muitas espécies não têm níveis de controle, o que sugere práticas ilegais.
Além de sua importância no ecossistema tubarões e raias são animais lindos, imponentes e inspiradores.
Aqui na FishCode nossa classificação para o cação é EVITAR CONSUMIR. Por todos os motivos que citamos aqui como características destas fantásticas espécies.
Por fim, segue um trecho do Livro: Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Tubarões e Raias Marinhos Ameaçados de Extinção, explicando como podemos fazer a nossa parte para ajudar os peixes cartilaginosos ou elasmobrânquios.
O que você pode fazer para ajudar?
1 – Interesse-se pelo assunto, leia sobre esses animais e se informe sobre o que é feito pelos pesquisadores, assim fica mais fácil alterar a percepção negativa sobre elasmobrânquios, em que a ideia geral (e muito errada) é de que os tubarões são animais perigosos e assassinos. Há muito mais por saber e se encantar. Além disso, você estará mais capacitado a argumentar e assumir algumas atitudes positivas;
2 – Informe-se sobre campanhas, petições, demais ações e iniciativas que tenham como objetivo a conservação dos elasmobrânquios e o ambiente marinho como um todo (por exemplo, as campanhas para o descarte correto de lixo plástico), pois não há como proteger os elasmobrânquios sem incluir a preservação do ambiente marinho como um todo. Dê seu apoio e incentivo às iniciativas de criação de áreas de proteção marinha;
3 – Evite consumir a carne de elasmobrânquios, pois grande parte do que é comercializado envolve espécies ameaçadas de extinção, capturadas de forma ilegal e sem qualquer regulamentação. Mesmo quando não for o caso, se possível, não consuma carne desses animais, lembrando que muitos estão em declínio populacional e apresentam níveis elevados de metais pesados. Não estimule o comércio, difusão e utilização de produtos ornamentais feitos com partes de elasmobrânquios (pingentes e colares de dentes, artefatos com couro desses animais, peças decorativas etc.). Imagine decorar a sua casa com a cabeça de uma onça ou então usar um casaco com a pele de urso-polar. É de extremo mau gosto!
4 – Denuncie crimes ambientais previstos em lei. Comunique às autoridades sobre espécies ameaçadas capturadas ilegalmente;
5 – Divulgue essas ideias junto aos seus amigos, parentes, vizinhos, colegas de trabalho e a quem mais for possível. Ensine isso aos seus filhos e netos para que eles não corram o risco de encontrar, no futuro, um mundo onde esses animais sejam apenas peças de museu, fotografias e histórias sensacionalistas e, o pior, onde o ecossistema marinho seja deserto, sujo, feio, triste e doente."